quinta-feira, 3 de março de 2011

Mundo

É tarde demais para tentar mediação com Kadhafi na Líbia, dizem rebeldes

Conselho Nacional Líbio rejeitou proposta do venezuelano Hugo Chávez.
Segundo os rebeldes, repressão a protestos já derramou 'sangue demais'.

Os rebeldes líbios rejeitaram terminantemente nesta quinta-feira (3) a proposta de mediação internacional na crise do país feita pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
A informação é de Mustafa Gheriani, porta-voz do Conselho Nacional Líbio, que reúne os opositores ao regime do ditador Muammar Kadhafi, na cidade de Benghazi, no leste do país.
"Temos uma posição muito clara: é muito tarde, foi derramado sangue demais", disse.
Ahmed Jabreel, assessor do ex-ministro da Justiça Mustafa Abdel Jalil, que preside o Conselho, insistiu por sua vez que a comunidade internacional deveria criar uma zona de exclusão aérea para ajudar os rebeldes a derrubarem Kadhafi
"Não vamos negociar uma solução política. Queremos que ele seja levado a julgamento, mas se não lhe dermos uma saída, sabemos que mais pessoas serão mortas", afirmou.
O governo da Líbia aceitou o plano proposto pela Venezuela, disse mais cedo um porta-voz de Chávez.
Andres Izarra, ministro de Informação da Venezuela, também confirmou que a Liga Árabe mostrou interesse na proposta de Chávez, que seria de mandar uma comissão internacional negociar com Kadhafi e com os rebeldes, representados pelo Conselho.
A informação havia sido adiantada pela TV Al Jazeera e pelo jornal líbio "Yosberides".
Rebeldes antigoverno da Líbia cantam slogans contra Kadhafi nesta quinta-feira (3) durante funeral de vítima da repressão da véspera na cidade de Brega. (Foto: AP)
Rebeldes antigoverno da Líbia cantam slogans contra Kadhafi nesta quinta-feira (3) durante funeral de vítima da repressão da véspera na cidade de Brega. (Foto: AP)

Segundo a Al Jazeera, o plano envolveria uma comissão integrada por países de América Latina, Europa e Oriente Médio, com o objetivo de buscar uma saída negociada entre o líder líbio e forças rebeldes.
Chávez disse que a comunidade internacional deveria buscar uma solução não militar para o conflito e acusou os Estados Unidos de exagerarem o problema na Líbia para justificar uma suposta invasão.
O ministro de Relações Exteriores da França, Alain Juppé, também rejeitou a mediação de Chávez.
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Musa, disse que o órgão está estudando a proposta de mediação.
Saif al Islam, filho de Kadhafi, disse  que não é necessário qualquer envolvimento internacional na mediação da crise na Líbia.
Saif afirmou em entrevista ao canal Sky News que não estava ciente da oferta feita pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, mas acrescentou: "Temos que dizer obrigado... mas somos capazes o suficiente para resolver nossos problemas por nosso próprio povo. Não há necessidade de qualquer intervenção internacional."

Confrontos

Os rebeldes já levaram a linha de frente para a oeste de Brega, e as forças de Kadhafi recuaram para Ras Lanuf, 660 quilômetros a leste Trípoli, segundo militares rebeldes.
'O conselho militar em Benghazi começou a se organizar, não tomou qualquer decisão de avançar para o oeste, mas está se organizando para estar pronto para qualquer desenrolar nos próximos dias', disse o assessor do ex-ministro.
Um porta-voz do conselho anunciou na quarta-feira que Abdel Jalil presidirá a assembleia de 30 representantes dos grupos rebelados. Mas esse porta-voz acrescentou que o conselho, apesar da sua intenção de se transferir para Trípoli se Kadhafi cair, não é um governo provisório.
Jabreel, que como diplomata já serviu em Nova York, disse que Abdel Jalil tem viajado pelas cidades da região para obter apoios e construir um consenso sobre os planos do conselho.