Haitianos comparam Baby Doc a Mandela e querem ex-ditador no país
As acusações de tortura, exílio e prisões arbitrárias contra o ex-ditador Jean-Claude "Baby Doc" Duvalier parecem não encontrar eco entre parte da população do Haiti. Há dias, centenas de manifestantes lotam a rua em frente ao hotel em que o ex-governante está hospedado para apoiá-lo. Há atá quem compare Duvalier, que voltou do exílio no último domingo, a Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul.
"A África tem o Mandela, que ficou 25 anos preso. Nós temos o Duvalier, que agora voltou do exílio e isso é muito bom para o Haiti. Nós ficamos 25 anos sem ninguém que fizesse nada pelo país. O Duvalier voltou e isso é muito bom para o Haiti. Ele é o nosso Mandela, queremos que ele fique", disse Willy Bartheloy, de 50 anos, que foi sargento no Exército haitiano durante o governo de Baby Doc.Outro manifestante reclamou do descaso do atual presidente René Préval após o terremoto que destruiu grande parte da capital Porto Príncipe em janeiro do ano passado.
"Eu perdi meu filho e minha mulher no terremoto. O Préval não fez nada, não ajudou ninguém. Eu tive que fazer os buracos para enterrar meu filho e minha mulher. Ele não quer saber de nada. Todos os haitianos gostam do Duvalier."Entre os manifestantes estavam pessoas que nem mesmo estavam vivas durante o regime de Baby Doc, entre 1971 e 1986. Principal líder comunitário de Bel Air, uma das áreas mais pobres de Porto Príncipe, Daniel Delva, disse, no entanto, que nem todos são a favor da permanência do ex-ditador no país.
São vários aspectos envolvidos. São muitos simpatizantes, mas há quem ache que ele voltou para se envolver de alguma forma no processo de reconstrução do Haiti. Não sabemos bem ainda quem ele vai apoiar nas eleições. É complicado. Eu não sofri durante o regime dele porque era muito criança, mas, para quem viveu, ele não é querido. Eu espero que a justiça faça o necessário", afirmou.
Proibido de falar com a imprensa, Baby Doc tem feito algumas aparições na varanda de seu hotel em Porto Príncipe. Seus advogados são os únicos a dar declarações sobre o retorno do ex-ditador ao país e sobre os processos abertos contra Duvalier.
"Isso é culpa do governo. Ele está sendo intimado por um jogo político. É tarde demais para julgarem acusações proscreveram. Ele quer ficar. Tudo isso não passa de uma conspiração do presidente Préval", disse Henry Robert Sterlin.
Processos
Nesta quarta, quatro haitianos entraram com quatro processos contra o ex-ditador por tortura, exílio e prisões arbitrárias, cometidos durante os 15 anos que passou à frente do poder, informou a jornalista haitiana Michèle Montas.
Além dela, os ex-presos políticos Alix Fils-Aime e Claude Rosiers, que passaram 10 anos detidos pelo regime de Duvalier, e Nicole Magloire, outra vítima do ditador, também entraram com processos contra 'Baby Doc'.
Montas foi mandada para o exílio forçado, e sua estação de rádio, a Radio Haiti, foi vandalizada por agentes do governo.
Comissão da OEA
O Haiti deve punir os crimes cometidos durante a ditadura, até agora impunes, afirmou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
A CIDH recordou ao governo do Haiti "seu dever permanente de investigar, processar, sancionar e reparar as violações de direito humanos que constituem crimes sob direito nacional ou internacional", em um comunicado.
A Comissão é uma entidade autônoma da Organização de Estados Americanos (OEA).
*(Com agências internacionais)